Arqueologia do Forte do Brum

Archaeology of the Fort of Brum

O Forte de Brum localiza-se no istmo que liga Olinda a Recife, no atual bairro do Recife, próximo à Prefeitura da Cidade. Possui as seguintes coordenadas Latitude: 008° 03' 08,9" Sul e Longitude: 034° 52' 14,8" Oeste.

Passados os primeiros momentos após a tomada do Recife, cuidaram os holandeses de reforçar as defesas de sua posição. Haviam trazido entre eles o engenheiro Commersteijn, que se encarregaria de várias de suas obras de defesa. Tanto quanto aos portugueses, preocupava aos holandeses a defesa do porto. As feições naturais do porto propiciavam condições tais que, dois pontos deveriam ser efetivamente defendidos: a entrada principal da barra, ao norte, e a barreta dos afogados, um pouco mais ao sul.

Eram as mesmas preocupações que haviam levado, desde cedo, os portugueses a situar suas obras de defesa.

A linha de arrecifes que corria paralela à costa, era bruscamente interrompida, bem próximo ao istmo que liga Olinda às terras baixas na foz dos rios Capibaribe e Beberibe; este era o acesso principal ao porto. Durante o procedimento de aproximação, ao contornar o arrecife, os navios necessariamente aproam em direção ao istmo, o que confere à posição, uma extraordinária condição para a instalação de defesas na área. Já em 1595 os portugueses haviam levantado no local o Forte Bom Jesus, que ao longo do tempo fora destruído. Quando da chegada das tropas holandeses, o porto era defendido pelo Forte do Mar, erguido sobre os arrecifes e em frente a ele, no istmo, pelo Forte de São Jorge. Construída em 1626, existia também em frente à barra, uma bateria que reforçava a defesa confiada àqueles fortes. Em 1629 a bateria que fora desarmada e abandonada, agora inspirava cuidados. Em seu lugar iniciou-se a construção do Forte Diogo Paes, que não chegou a ser concluído.

Embora os holandeses tivessem se apossado das defesas armadas pelos portugueses para garantir a barra, os poucos dias de combate haviam provocado danos significativos às já velhas estruturas. O Forte do Mar foi mantido no sistema de defesa holandês, mas não se animaram em reparar o Forte de S. Jorge.

No início do mês seguinte à invasão, em abril de 1630, portanto, o coronel Diederik van Waerdenburch, comandante das tropas invasoras, já havia se decidido por construir um forte sobre os alicerces do Forte Diogo Paes, iniciado pelos portugueses. Naquele local, os holandeses haviam, de início, instalado uma bateria.

O Forte do Brum, como passou a ser chamado, foi projetado pelo engenheiro Commersteijn e construído sob contrato pelo Alferes do Capitão Ellert, Ludolf Nieuwenhuysen e pelo Sargento do Capitão Craey, Joris Bos.

Não fora uma construção fácil. As obras do novo forte holandês tiveram início em maio, portanto, em um período de inverno, o que era agravado ainda, pelo desconhecimento pormenorizado da região. As dificuldades, não se limitaram apenas ao período das chuvas, mas ainda ao acesso ao material de construção como madeira, faxina, tijolos, telha, pedra e cal.

Por outro lado, os luso-brasileiros não davam tréguas aos construtores da nova fortificação. As companhias de emboscadas assediavam-na constantemente, demolindo o que era construído, estorvando os homens que saiam em busca de material para a construção. Preocupado com o retardo das obras e com a ameaça de perder a posição conquistada, o coronel Diederik van Waerdenburch, determinou o levantamento imediato de uma forte estacada. Eram fortes estacas assentadas, nas quais foram pregadas tábuas em ambos os lados e o espaço entre as tábuas preenchido com areia. Outra linha de estacas pontiagudas assentadas na parte externa da construção, dificultou consideravelmente os novos ataques dos luso-brasileiros, que então já não causavam maiores danos à construção. Mas não impediam a ação das emboscadas contra os grupos que saiam em busca de madeira e faxina para a construção.

Situado no istmo, o Forte do Brum, era praticamente banhado a leste pelo mar e a oeste pelo Rio Beberibe. O observador atual, situado no baluarte leste e que olhe para o mar, deve abstrair a faixa de terra que hoje separa o Forte do Brum do Porto do Recife. Toda esta faixa de terra constitui-se em aterro recente que se relaciona com a configuração atual do Porto de Recife. Aquela proximidade com o mar, exigiu uma adequação da planta do Forte do Brum, às condições do terreno, na situação da época de sua construção. A forma quadrangular interna foi mantida, entretanto os bastiões, em número de quatro, foram prejudicados em decorrência da proximidade com o mar: a leste, apenas dois meios bastiões foram construídos.

Havia, na época, tecnologia para construção de obras banhadas pelo mar, entretanto, deve ser considerado, que o Forte do Brum foi construído em tempo de guerra, conseqüentemente em ritmo acelerado. Os holandeses, optando por uma postura pragmática, preferiram sacrificar dois meios bastiões, que erguê-los completamente, em luta contra o mar. A sua construção em faxina e areia, recoberto com lama, era comum em sua época. Esta técnica construtiva, embora requeira reparos freqüentes, sobretudo quando utilizada em regiões de grande pluviosidade como é o caso do Recife, oferece algumas vantagens defensivas. A energia do impacto provocado por um projetil de canhão sobre uma muralha de terra ou areia, é mais absorvida e consequentemente dissipada, que o mesmo impacto sobre uma muralha de pedra. Além deste inconveniente, o impacto sobre uma muralha de pedra freqüentemente provoca estilhaços que podem atingir os defensores da fortificação, reforçando, conseqüentemente, o poder do atacante.

Apesar dos contratempos, o Forte do Brum foi concluído ainda em 1630, quando foi artilhado com dois canhões de vinte e quatro libras, um de dezoito, um de dezesseis, um de dez libras, além de duas bombardas, num total de quatorze peças.

A importância estratégica deste forte ultrapassou a dominação holandesa. Após a Restauração, o forte foi ocupado pelas forças do Brasil, tendo sofrido reformas em diferentes ocasiões.

Em 18 de setembro de 1667, o então Governador Bernardo de Miranda Henriques, solicitou ao Rei permissão para restaurar o Forte do Brum, considerando a importância de sua posição para a defesa da capitania.

Atendendo aos reclamos que se fazia, em 15 de dezembro de 1668, foi nomeado para ocupar o cargo de Engenheiro de Pernambuco, Antônio Correia Pinto. Já em Pernambuco, o engenheiro após avaliar a situação em que se encontrava o Forte do Brum, elaborou a planta para a sua reconstrução.

A administração da reconstrução do Forte do Brum, esteve a cargo da Câmara de Olinda, entretanto, a partir de 1671, esta administração passou à responsabilidade de João Fernandes Vieira, na qualidade de Superintendente das Obras de Fortificação da Capitania de Pernambuco.

Embora em 1680 as obras do Forte do Brum já estivessem bastante adiantadas, apenas em 1690 foram efetivamente concluídas, quando era governador da Capitania de Pernambuco, Antônio Luiz Gonsalves da Câmara.

Ao longo do tempo, o Forte do Brum sofreu reformas, que alteraram sobretudo suas estruturas internas. Plantas do forte, de diferentes épocas, mostram que suas linhas externas, de um modo geral, foram mantidas. As estruturas externas de defesa, no entanto, hornaveques, paliçadas, etc., estas foram excluídas.

Em 1880 sua artilharia constava de 48 peças.

Foi reparado em 1886, 1889 1908 e em 1909.

Por ocasião da Primeira Grande Guerra, nele esteve acantonada a 2a Cia do 4o Batalhão de Posição, da Bahia.

Em 1958, já desarmado, era uma dependência da 7a Região Militar, servindo como depósito. Serviu ainda como unidade de alistamento militar.

Em 1985, já como monumento tombado, o Forte do Brum foi parcialmente escavado pelo Laboratório de Arqueologia do Departamento de História do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco, em um trabalho que contou com o apoio do Comando Militar do Nordeste, da 7a Região Militar e da Fundação Joaquim Nabuco.

A pesquisa arqueológica revelou alguns vestígios que remontam às primeiras construções, contribuindo para o maior entendimento dos que construíram e lutaram nesta fortificação. Foram encontrados pregos que provavelmente sustentaram as tábuas de contenção das muralhas; louças que permitiram resgatar informações quanto ao quotidiano dos diferentes ocupantes do forte; projéteis, que passaram nas mãos de atacantes e de defensores; cachimbos, tanto holandeses quanto portugueses, que devem ter minimizado as horas de preocupação; peças de jogos, que devem ter ocupado os guerreiros em momento de trégua; a cacimba, que se encontrava totalmente soterrada, mas que à época garantiu o abastecimento de água. Enfim, diversos outros elementos que possibilitaram reconstituir parte da história desta fortificação.

Atualmente, como Museu Militar do Forte do Brum, em suas exposições, presta homenagem ao Soldado Nordestino.

Comentários

O forte atual foi construído em pedra e cal, com forma quadrangular, comportando do lado do mar, somente meios bastiões pequenos e, do lado do rio, bastiões inteiros e acabados. As grandes obras de modernização do Recife, realizadas no início deste século, pouparam o Forte do Brum; mas diferentes obras internas, alteraram significativamente suas dependências.

Em 1985 o Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco realizou pesquisa arqueológica na praça de armas do forte, pondo à mostra algumas das primitivas estruturas do forte, até então desconhecidas. Estruturas cuja necessidade de preservação é indiscutível, pois representa testemunhos de um período muito pouco representado de nosso acervo patrimonial.

O Forte do Brum está sob a guarda do Exército Brasileiro e abriga o Museu Militar, aberto à visitação pública.